sábado, 12 de junho de 2010

Tinha uma pedra no caminho




Do vidro dos carros vêem-se as lápides
É triste o adeus das pedras
Dirigindo na rua dirigi meu olhar e pensamento para um viciado
Sem direção na vida
Chovia e fazia frio
Quase senti sua fome e sua tristeza em seu olhar
Impressão minha
Nada naquele corpo franzino era seu
Nem sua vida era dele mais
Tudo está dominado
Eu vi o crack em seu coração
Escutei seu lamento:
Do céu caem lágrimas
Nas ruas gelado caminho
Uma mão no bolso
Outra no rosto
Enxugando
O que não pára de pingar
Na calçada minha ossada
Na rua uma pessoa em criança nua
Não toquem em mim
Tudo vira pedra
De violência sou capaz
É preto! É branco
É nosso sangue vermelho pulsando
No azul mundo
E a pedra mais uma vida expulsando
Vício imundo
“Eu pedi mais de mil vezes esmolas”
Não era isso qu’eu queria
Não toquem em mim
Tudo vira pedra
Lembro-me de criança bem pouco
Do brilho nos olhos
Chupando bico
Agora chupo lata
Meu bico é um cachimbo
Chupo tudo por um peguinha
Rastejo pelo chão
Numa migalha me acho
Não junto
Nem no espelho me olho
Tenho medo de defunto
Ontem fui de aço
Hoje nenhum pedaço
Veja em mim o resto
Não me toque
Tudo vira pedra
Esse lugar
Não posso contar
Não sei mais contar
Estou no chão
Não me toque
Tudo vira pedra
Nada me encontrará
Tudo está perdido
Não me toquem
Tudo vira pedra
Que sinos são esses
Que loucura
Uma doçura no olhar teu quero ver
Chega de tanta amargura
É a real
Estou no chão me erga com sua mão
Me toque
Me tire dessa merda

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