segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Cabelo branco clareando o escuro

 


 


Não sou de contar histórias para crianças, nem para adultos

Conto história para gentes

Aliás

Conto sonhos para dormirmos e sonharmos juntos

Ou vice versa

Vamos juntos sonhar que estamos dormindo bem e sonhando bem?

Então tá...

...Nossa história começa aqui ou ali, ou lá.. tanto faz

Vou inventar uma história...do agora...do presente que daremos a nós mesmos

Será sobre...uma casa vazia que tinha uma aparência sombria...

Onde morava um senhor que não aceitava mudanças

Vou nomear a história da...

...Casa Vazia...

Houve uma época em que uma grande empresa queria comprar todos os terrenos e casas de uma região

Para construir um grande condomínio

Mas no caminho dessa construção tinha uma casa que parecia sempre vazia

Mas se sabia que ali morava um velho sozinho

E o velho dono dessa casa vazia não quis participar da evolução da região

Mas nãoa adiantou seu não querer

A evolução seguiu 

E assim sua casa ficou ilhada em meio a outras construções

O sol fora tapado por muros

E o velho senhor gostava de sentar todos os finais de tarde para aproveitar o restinho de sol

Ele olhava para o horizonte vazio e se enchia de alegria

Mas dali ele já percebia que a cidade crescia

Mas ele fazia de conta que nada acontecia

Sua visão estava nada clara ao que acontecia

O tempo passava...

E ele viu os vizinhos partindo, velhos se indo... ele pensava

Os trabalhadores chegando

E riam

E trabalhavam

E comiam

E se iam todo o final de tarde

Ele quase não mais via o sol que se ia

Enquanto as paredes ao lado subiam

O Renascer do Sol e Poente se confundiam

A obra crescia

O tempo seguindo

Só seu aceno de mão ao que se ia

A promessa de que novos vizinhos viriam o deixava furioso

E ele nem sabia o que queria

Só queria que tudo ficasse como sempre fora

Jogava par ou ímpar sozinho e sempre perdia

Sem par 

Seu ímpar

Seus olhos nada mais do que imaginava viam

O velho senhor não namorava

Sempre sozinho morava

Não gostava de dança nem de mudança

Não cantava

Não dançava

Vivia num nado contra a correnteza do mundo

As construções cresciam e queriam conversar

Mas os muros que ele construíra em toda a sua vida o fechavam

Cada vez mais o vento não batia em seus cabelos

E o ar não circulava

Os avisos de cuidado: Pessoas em máquinas trabalhando

A luz não mais entrava em sua casa

Uma fumaça todo o final de tarde saía de seu fogão a lenha

Ele era a lenha que queimava ardia todo o dia

Ele não sabia

O mundo indo

Seguindo o seu destino

Ele do seu céu não via

Até que um dia um miado de um gatinho perdido o fez olhar para o lado

Mas havia um auau além do miado

O que? Um gato e um cachorro

Dois filhotes abandonados

Ele olhou para si pela primeira vez depois de tanta solidão se viu irmão

As nuvens saíram de cima de seu cabeção e de seu coração

Pegou o gato e o cão

Disse a si...não chorem bichinhos, estou aqui

Coitadinhos. Tão pequeninos e olha são bem bonitinhos

Era uma gata que muito grata dormiu aninhada no peito vazio do velho senhor

O cachorrinho era um machinho e dormiu do ladinho deles

Sabem que após essa noite entre cão e gata

Ele acordou seu sonho

Pediu e se deu licença para viver esse sonho

O sonho de estar vivo e junto com todo o mundo

Sem sombra de dúvida sua vida se desencastelou

A ilusão ou medo sei lá

O que ocupava a mente daquele velho senhor

Como uma nuvem se dissipou O Sol voltou

Ele acordou (nem sei se em sonho)

Levantou com outras cores e sem dores

Se olhou no espelho e não se viu

Só notou no reflexo do espelho as vidas dos dois bichinhos

Seu coração terno se vestiu

De amor se clareou

Preparou uma ração pros três e sem razão

Se alimentaram os três de viver sua vez

A rua cheia de trabalhos a fazer brilhava

Pessoas com suas máquinas trabalhavam

Ele saiu com os filhotes no colo

Sentiu brotar do solo

Ou será tremer do solo?

Seu medo

Naquela manhã bem cedo

Soube que tudo tem que crescer

Tem que mudar

E os incômodos que o progresso faz

Não é fácil

Talvez nem necessário

Mas a vida segue

Ver aqueles bichinhos crescendo e sabendo que um dia eles seriam

Ficariam velhos como ele

Em meio a evolução

Percebeu que não é fácil aceitar as mudanças da vida

Mas que se ele abraçasse a vida de o que a vida lhe oferecia

Seria não! É o melhor a se fazer...

Quando os animaizinhos pularam de seu colo e foram de encontro a um trabalhador

Que ainda tomava seu café da manhã

Que intuitivamente repartiu seu pão com os bichinhos

Sem os conhecer se reconheceu

O espanto sumira

Os pelos dos quatro se arrepiaram

O sol veio e os aqueceu

A água brotou nos olhos vivos deles

As lágrimas desceram para além das dores

Mostraram além do arco de suas íris e iras as cores

Viram um o outro

Um novo mundo nascendo.

As coisas são como elas são

E isso faz tempo

Mas somos os mesmos

E...

A casa do velho senhor é hoje um museu...

Em homenagem ao Eu Sou Melhor que há em cada um de nós

 

 

 


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