- Veja a pedra mais uma vida expulsando. Não toquem em mim, tudo
em mim vira pedra. É preto ou branco, tanto faz, para matar minha fissura, de
violência sou capaz. O sangue vermelho pulsando em meus olhos me expulsa da sociedade
e quero é a saciedade desse vício. Pedi mais de mil vezes, esmolas, e não era
isso que eu queria. Lembro-me de criança chupando bico, agora chupo lata, tudo
vira cachimbo. Chupo tudo, por um pega.
Rastejo pelo chão, numa migalha me acho. Não me junto a ninguém, sou um
defunto. Não me olho no espelho faz tempo, tenho medo de defunto. O vício é de
aço, me deixou em pedaços. Veja em meu corpo o resto do que sobrou daquela
criança. Não me toque, tudo vira pedra. Desse destroço que de mim restou, não
preciso mais nada contar. As correntes de meus desatinos formaram a correnteza
que me leva para onde não quero e nem posso voltar, não sei mais não consigo
nem pensar. Estou no chão. Tudo está perdido. Que sinos são esses? Que loucura.
Uma doçura no olhar em relação a mim queria ver em você. Chega de tanta amargura. É a
real, estou perdido. - Este texto foi um poeta que por mim escreveu, disse que o
escutou frase a frase em meu olhar de dor. Desde então, distribuo no sinal este
papel com o texto. Caso outro dia, em uma sinaleira, encontrar alguém com olhar
perdido, talvez seja eu, isso não importa, tente descrever o que sente sobre o
que vê e entregue para alguém ler. Nunca me esquecerei desse acontecimento,
acho que virei poeta também. Foi um poeta que comigo chorou...Ou fui eu? Sei
que o poeta comprovou que o amor existe. Estou triste, mas diferente.
Figura acima do texto de Ósi Luís - A Ressureição de Matthias Grunewald
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