Não sou de contar histórias para crianças, nem para adultos
Conto história para gentes
Aliás
Conto sonhos para dormirmos e sonharmos juntos
Ou vice versa
Vamos juntos sonhar que estamos dormindo bem e sonhando bem?
Então tá...
...Nossa história começa aqui ou ali, ou lá.. tanto faz
Vou inventar uma história...do agora...do presente que daremos
a nós mesmos
Será sobre...uma casa vazia que tinha uma aparência
sombria...
Onde morava um senhor que não aceitava mudanças
Vou nomear a história da...
...Casa Vazia...
Houve uma época em que uma grande empresa queria comprar todos
os terrenos e casas de uma região
Para construir um grande condomínio
Mas no caminho dessa construção tinha uma casa que parecia sempre vazia
Mas se sabia que ali morava um velho sozinho
E o velho dono dessa casa vazia não quis participar da evolução
da região
Mas nãoa adiantou seu não querer
A evolução seguiu
E assim sua casa ficou ilhada em meio a outras construções
O sol fora tapado por muros
E o velho senhor gostava de sentar todos os finais de tarde
para aproveitar o restinho de sol
Ele olhava para o horizonte vazio e se enchia de alegria
Mas dali ele já percebia que a cidade crescia
Mas ele fazia de conta que nada acontecia
Sua visão estava nada clara ao que acontecia
O tempo passava...
E ele viu os vizinhos partindo, velhos se indo... ele
pensava
Os trabalhadores chegando
E riam
E trabalhavam
E comiam
E se iam todo o final de tarde
Ele quase não mais via o sol que se ia
Enquanto as paredes ao lado subiam
O Renascer do Sol e Poente se confundiam
A obra crescia
O tempo seguindo
Só seu aceno de mão ao que se ia
A promessa de que novos vizinhos viriam o deixava furioso
E ele nem sabia o que queria
Só queria que tudo ficasse como sempre fora
Jogava par ou ímpar sozinho e sempre perdia
Sem par
Seu ímpar
Seus olhos nada mais do que imaginava viam
O velho senhor não namorava
Sempre sozinho morava
Não gostava de dança nem de mudança
Não cantava
Não dançava
Vivia num nado contra a correnteza do mundo
As construções cresciam e queriam conversar
Mas os muros que ele construíra em toda a sua vida o fechavam
Cada vez mais o vento não batia em seus cabelos
E o ar não circulava
Os avisos de cuidado: Pessoas em máquinas trabalhando
A luz não mais entrava em sua casa
Uma fumaça todo o final de tarde saía de seu fogão a lenha
Ele era a lenha que queimava ardia todo o dia
Ele não sabia
O mundo indo
Seguindo o seu destino
Ele do seu céu não via
Até que um dia um miado de um gatinho perdido o fez olhar
para o lado
Mas havia um auau além do miado
O que? Um gato e um cachorro
Dois filhotes abandonados
Ele olhou para si pela primeira vez depois de tanta solidão
se viu irmão
As nuvens saíram de cima de seu cabeção e de seu coração
Pegou o gato e o cão
Disse a si...não chorem bichinhos, estou aqui
Coitadinhos. Tão pequeninos e olha são bem bonitinhos
Era uma gata que muito grata dormiu aninhada no peito vazio
do velho senhor
O cachorrinho era um machinho e dormiu do ladinho deles
Sabem que após essa noite entre cão e gata
Ele acordou seu sonho
Pediu e se deu licença para viver esse sonho
O sonho de estar vivo e junto com todo o mundo
Sem sombra de dúvida sua vida se desencastelou
A ilusão ou medo sei lá
O que ocupava a mente daquele velho senhor
Como uma nuvem se dissipou O Sol voltou
Ele acordou (nem sei se em sonho)
Levantou com outras cores e sem dores
Se olhou no espelho e não se viu
Só notou no reflexo do espelho as vidas dos dois bichinhos
Seu coração terno se vestiu
De amor se clareou
Preparou uma ração pros três e sem razão
Se alimentaram os três de viver sua vez
A rua cheia de trabalhos a fazer brilhava
Pessoas com suas máquinas trabalhavam
Ele saiu com os filhotes no colo
Sentiu brotar do solo
Ou será tremer do solo?
Seu medo
Naquela manhã bem cedo
Soube que tudo tem que crescer
Tem que mudar
E os incômodos que o progresso faz
Não é fácil
Talvez nem necessário
Mas a vida segue
Ver aqueles bichinhos crescendo e sabendo que um dia eles
seriam
Ficariam velhos como ele
Em meio a evolução
Percebeu que não é fácil aceitar as mudanças da vida
Mas que se ele abraçasse a vida de o que a vida lhe oferecia
Seria não! É o melhor a se fazer...
Quando os animaizinhos pularam de seu colo e foram de
encontro a um trabalhador
Que ainda tomava seu café da manhã
Que intuitivamente repartiu seu pão com os bichinhos
Sem os conhecer se reconheceu
O espanto sumira
Os pelos dos quatro se arrepiaram
O sol veio e os aqueceu
A água brotou nos olhos vivos deles
As lágrimas desceram para além das dores
Mostraram além do arco de suas íris e iras as cores
Viram um o outro
Um novo mundo nascendo.
As coisas são como elas são
E isso faz tempo
Mas somos os mesmos
E...
A casa do velho senhor é hoje um museu...
Em homenagem ao Eu Sou Melhor que há em cada um de nós