Eliminando as razões expostas pelo General Mascarenhas
de Morais em suas memórias, outros motivos dos insucessos brasileiros
são raramente abordados. Entre eles está a pouca qualificação dos
brasileiros em atividades de elevado nível técnico, como a interpretação
de fotos aéreas, fundamentais para a localização das defesas inimigas,
confecção de cartas topográficas, de situação e caixões de areia.
A primeira escola de formação de especialistas
militares: o Centro de Instrução Especializada (CIE), foi criado às
pressas, por decreto presidencial, em 30 de junho de 1943, totalmente
dependente do auxílio de instrutores norte-americanos. O Curso de
foto-informação do Exército Brasileiro só viria a funcionar,
efetivamente, após a IIGM, na Escola de Instrução Especializada (EsIE),
no Rio de Janeiro.
Curiosamente, uma das melhores fontes de estudo sobre as
razões dos insucessos nos ataques ao maciço Belvedere-Monte
Castello, está justamente nas razões apontadas para o sucesso do ataque
final, iniciado na operação Riva Ridge e descritas pelo Tenente Coronel Henry J. Hampton, Comandante do I Batalhão do 86th (Download do documento original aqui).
THE RIVA RIDGE OPERATION
REPORT OF LT. COL. HENRY J. HAMPTON
Razões para o Sucesso
1. 70% do pessoal foi treinado nas Montanhas Rochosas. Eles não tinha medo de despenhadeiros, precipícios e terreno difícil.
2. Reconhecimento prévio e
completo das rotas de abordagem pelos oficiais e homens que conheciam a
montanha, com a preparação de ordens detalhadas, caixões de areia e
fotos aéreas para a completa orientação de cada homem.
4. Reconhecimento aéreo, feito pelos comandantes, no terreno que não podia ser observado na superfície.
5. Possibilidade de prática num terreno próximo, compatível com o terreno onde a operação foi executada.
6. Ação noturna tanto na abordagem quanto no ataque.
7. Condição física e disposição, que eram os principais obstáculos a serem ultrapassados.
8. Moral alto e Espírito
de Corpo dos homens, que sabiam que o combate em montanha era a sua
especialidade e quando lhes é dado um objetivo, darão o máximo de si
para superá-lo, para justificar o seu treinamento especializado.
Diga-se de passagem: boa parte das razões para o sucesso
da tropa norte-americana não estavam presentes no treinamento da tropa
brasileira. Mesmo assim, o Ten Cel Castello Branco minimizou as
deficiências da tropa ante a impossibilidade da missão imposta: “Quanto
às falhas dominantes observadas na montagem e na execução dos ataques,
queremos apenas sintetizar dizendo, que resultaram mais das condições
dominantes do que das imperfeições da própria tropa.”
O Comandante da FEB decide continuar
Retornando da reunião, no QG do IV Corpo de Exército, o
Gen Mascarenhas de Moraes foi demovido da idéia de renúncia ao cargo
pelo Gen Cordeiro de Farias, respondendo então aos questionamentos do
Gen Crittenberger:
” A FEB guarnece uma
frente de 20 Km e teve ordem de atacar num setor de 2 Km dessa frente;
não tinha meios para vencer o inimigo nesse setor e continuar a
guarnecer 18 Km; o comando brasileiro achava que a FEB poderia
manifestar capaciddae de combate quando recebesse uma missão adequada
aos meios, não só quanto a profundidade do ataque, mas quanto à sua
largura; mas enquanto recebesse missões como aquela do dia 12, só
poderia mostrar não uma incapacidade, mas uma impossibilidade de
combater. Acrescentou o comando brasileiro que nem a melhor Divisão
americana, no T.O. do Mediterrâneo, do Pacífico ou da Europa, entrou em
linha sem ter preenchido por completo o ciclo de sua instrução, isto é,
um ano de instrução nos Estados Unidos, três meses no T.O. e um mês de
ambientação na linha de frente. A instrução da FEB tinha sido incompleta
no Brasil por culpa do Governo, na Itália por culpa do comando aliado.
Por fim, como último argumento, dizia que não cabia ao comando
brasileiro julgar a si próprio. O comando americano, que o tinha
diretamente sob suas ordens, é que poderia atestar se tinha ou não
capacidade de combate”
(trecho do livro: A FEB por um Soldado)
Seus argumentos foram aceitos e, porque não dizer,
empregados pela 10ª Div Mth americana na ação vitoriosa de fevereiro de
1945. Após o episódio de Monte Castello, a FEB passou a ser empregada de
forma adequada, portando-se de forma admirável pelo restante da
campanha.
Muita embora esse episódio pessoal dramático possa
sucitar uma animosidade ocorrida entre brasileiros e norte-americanos,
tal impressão é falsa. O tratamento entre militares, principalmente em
tempo de guerra, costuma ser duro, ríspido, direto. Quando vidas
humanas estão em jogo, não há espaço para meias palavras. Por outro
lado, esse tratamento também é igualmente leal e honesto.
Prova disso são as memórias escritas pelos envolvidos.
Nelas evidencia-se o respeito e a admiração mútua entre Mascarenhas de
Moraes, Crittenberger e Mark Clark.
Os combates de Monte Castello foram muito pouco
abordados pela historiografia nacional, em especial nos últimos 30 anos.
Há muito ainda a ser descoberto, pesquisado e debatido. Novas idéias e
interpretações podem (e devem) germinar, livres de idéias pré-concebidas
e amparadas num estudo sério e meticuloso.
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