A CAMA ESTÁ FRIA NÃO CONSIGO DORMIR
O CACHORRO ESTÁ LÁ FORA LATIR
NA PAREDE UMA FOTO -DE UM SORRISO QUE NEM SEI SE DEI -ME SORRI
SACUDO A POEIRA DE MEUS VINCOS
EU SEI ESTOU NO OLHO DE MINHA VIDA FURACÃO
O CHÃO TREPIDA A CADA PASSADA NESTA CASA DE MADEIRA
MESMO ASSIM LEVANTO E ESCREVO...
Na história do curta “Omelete” podemos notar medo, vício, revolta, paixão, alegria e poesia. Equilibradamente antropofágico, onde um personagem come o sentimento do outro, e ao mesmo tempo, em detrimento do próprio se liberta, desoprimindo e criando uma atmosfera de respeito com a identidade do outro. O vício é o fio condutor que os conecta aos mesmos momentos e sentimentos, causando identificação e cumplicidade. Assim estabelecendo um diálogo produtivo, mesmo que todo voltado à obtenção e consumo de drogas. Percebesse algo mais do que destruição no submundo das drogas, a busca de outra realidade na inação de se drogar é causa e efeito.
Detectar sentidos nos sentimentos de cada personagem e reconhecê-los os demonstrando, se torna uma necessidade na narrativa dramática do vídeo. Pois a emoção balanceada ao raciocínio ilógico projeta a fita ao mundo surreal que os drogados tanto buscam em seus devaneios e desatinos drogatitos. Vivem imersos no caos, numa matéria sem forma. Nestas energias soltas, montam-se estruturas que dissipão a revolta e violências espontâneas. No raciocínio ilógico da tentativa de Doud de ser uma ponte do abismo social, existente entre pobres (sem cultura) e ricos (herméticos intelectuais), surge a lógica do espírito de nossa época, o hedonismo. Os pensamentos o trituram e o martirizam, afinal como ser normal num mundo tão desigual. E mais, a mídia que mostra tudo o que eles não são e não podem ter, e noticiários que propagam medo, morte e erros. Tudo isso massacra a sua mente pensante. Vivem nesse dilúvio de más notícias e consumo desenfreado, mas tornam este estado caótico em esperança surreal numa criatividade na luta pela vida. É humanamente possível sobreviver ao caos, já que este impulsiona a criatividade e genialidade humana. Ali está o ser humano em estado puro. Do caos ao cosmos, seus intelectos reagem de formas disformes a uma mesma meta, a de tentar ser feliz a qualquer modo, mesmo que numa breve viagem. Nesse caos social navega fragmentos, pedaços de uma sociedade mesquinha, de famílias fartas de luxo, nutridas a miséria de outras famílias, de crianças, de velhos, de sonhos e desejos do povo.
Uma das figuras urbanas mais impressionantes, ícone dessa condição, é o poeta, catador de palavras ativas, as junta com seus pedaços em farrapos, recicla, recria destinos óbvios em sua mente ululante. E a emergência com que surgem em seu rosto lágrimas, que depositadas em suas pálpebras nublam o teclado ou a ponta da esfera de seu caneta,. O mundo circula em órbita própria na criação humana de um crianção. Doud, uma cria do que não queria, o produto de um mundo prostituto, seu trabalho; olhar para seu caralho e tratá-lo de forma produtiva, esquecer sua paixão por uma só mulher, e amar a todos como um irmão. O que de fato descobre-se ao ultrapassar o umbral pensante do ser, até chegar ao Sou. À esta incessante busca surgem os pensamentos mais elevados, portanto sublimes e eternos da humanidade. Assim em seu auxílio conectam-se Prometeu, o acorrentado (pois estão acorrentados aos vícios e desejos), Hamlet (atualizando o ser ou não ser – o ser está perdido nesse caos do ter), Dom Pedro I (independência ou morte - liberdade do vício, conformismo e consumismo) e Jesus Cristo (o martírio de encarar a realidade do que tornamos nosso mundo).
Á conquista de um espaço na sociedade começa na união de pessoas com os mesmos ideais de vida, no reconhecimento da dignidade, no voto de confiança, no acolhimento. Enfim na criação de uma família escolhida e adotada, digamos assim, uma família feita por afinidade, não somente por imposição consangüínea, sendo que todos somos irmãos em espécie. Os que estão na margem, unidos busquem o centro por meios dignos. Que se acolham entre si não só pela carência, também na divisão de experiências e conhecimentos. Sim, dar pérolas a todos; ao filho perdido de uma pai também perdido; a uma mãe desolada de uma filha também desolada; a todos por todos, já que somos um todo enquanto sociedade. Essas experiências trarão a boa informação em abundância e de graça, enlaçando as pessoas no ideal mais que humano em nós, o ideal de felicidade. Ao curarmos nossas chagas sociais, criaremos indivíduos mais contentes e compreensivos uns com os outros. A desigualdade é tamanha que nos parece piegas ou obsceno, mostrar a condição de vida do pobre. E de fato não mostraremos a vitimação do pobre, mas sim suas soluções práticas. A multidão de pobres querem o que precisam, e não precisam ser carregados para isto. Não é necessário ir mais fundo na condição do miserável, este ao ser sacudido percebe naturalmente o que fazer, mesmo sem uma reflexão mais sofisticada. Percebam que não estamos buscando culpados para o caos atual, mas sim compreendendo as causas desse horror e violência que aí estão. Portanto é necessário que a sociedade distribua um conhecimento realmente alcançável e útil a essa maioria desassistida da boa informação. Visando um mundo de amizade e fraternidade intelectual.