Ele saíra para esmolar uma grana, mas sabia que nada
receberia. Por que dariam? As pessoas não dão dinheiro para sustentar os vícios
de um viciado, se ele quer algo sabe, que tem ser roubado. Por que ele não
trabalha? O dinheiro que levo um mês pra ganhar, gasto em um dia. Esse
salário é uma mixaria. As pessoas fazem o que podem para satisfazerem seus
vícios. Com certa inquietação olhou para os lados e acelerou o passo seguindo o
seu caminho. Muitos riam de sua desgraça. A compaixão não está na moda.
Então...abanou suas mãos vazias e saiu sacudindo com os ombros, tipo o que
fazer? é assim. Nem sabe se o desprezo
dos transeuntes e comerciantes se dá pelo seu estado mental, pois pelas suas
roupas ele confunde com as outras. Todos mal arrumados, equipados pelas grifes
copiadas clandestinamente. Sai cambaleante com ar grave e dignidade. Apresentar
alguns furto já feitos em casa. Os kilos de açúcar, arroz e farinha. As latas
de azeite e leite em pó. Tudo já virara pedra e pó. Vendido ao Delfino.
Trocados por um fino, um pino ou uma pedra. Que sabe por uma cachaça ou ceva. E
esmo que seja por um dinheiro para participar de uma churrascada. Caráter é o
cara ter o que comer, vestir e onde dormir. Muitos trabalham de manhã cedo a tarde da
noite para gastar tudo no bar. Mesmo bebendo para anestesiar suas rotinas de
vida, não conseguem engolir seus sofrimentos. O vazio por nada é preenchido
quando chega a hora de adormecer para acordar de novo naquela dura realidade.
Bebe somente para desfocar seu sofrimento que mesmo sentindo tudo amanhã
dobrado ao acordar desesperançado, louco por um trago, mas não...tem que
trabalhar para ganhar o sustentoxxxx. Ergue-se uma vontade de gritar aos quatro
ventos, mas não sabe o que transmitir. Já que não pensa um jeito de sair desse
tormento. Gritar um vazio em eco que nada retorna a não ser o silêncio
ensurdecedor de sua alma inquieta. O universo não aceita uma vida sem verso,
sem poesia. Põe-se mais um dia e nada da vida querida desde a infância. Muitos
acham que por beber e roubar para me
chapar, não tenho sentimentos. Não gosto
de ler e sei que a maioria daqui também não gosta, mas sinto que eles leem em
minha testa o que não sou, somente o que estou sendo. Não encontro nenhuma sensibilidade,
ou compaixão nessas pessoas, parecem que me querem morto ou preso bem longe
daqui. Que espetáculo seria. Eu nos jornais, Tv e rádios... Mas tudo se evapora
tão rápido na vida louca que se exprime pouca ou loucamente as ideias de uma
vida melhor. Já nasci meio doido, e para completar ainda fui escolher essa vida
de ostentar o que não tenho. Moro num ligar próximo ao centro, perto da arena.
Um lugar selvagem... Sou desprezado e humilhado, veja até que ponto chegou
minha miséria...
Cebola - Vim parar na capital cheio de vontade de trabalhar e
agora estou aqui puxando esse carrinho e juntando lixo. Só o que posso fazer,
não tenho pra onde ir. Moro numa casa de favor, perdi a mulher por eu ser
facilmente irritável depois que bebo. Não fico violento, mas minha boca fala
mais besteira que a...minha instrução a, b. c e, i o u sei do alfabeto. Só ouço
música. Tipo aquela do beber até cair... sou corno mas te amo tanto minha donzela...
estou com insônia por causa da Sônia anda sumida a vagabunda se eu andasse no
meu perfeito juízo ela não tinha feito isso. Fugir com o vizinho..Uma vez
fiquei velando o sono dela e ela ali dormindo de boca aberta, parecia um anjo
aquela peste beijei seus pés de unhas
longas e vermelhas quase a noite toda. Tirei a calcinha dela que tava com uma
freiadinha e um pouquinho de coco na parte onde fica o brioco. Bebia e a
olhava. Linda. Bebi tanto que não consegui levantar, deu um sono e dormimos
juntos. Acordei vomitado e ela ficou braba. Esquentei na chaleira uma água pra
fazer um café e ela usos pra se lavar e sair. Fiquei brabo e bebi aquele dia
direto. Até que pessoas ciumentas e mal intencionadas começaram a vir no meu
ouvido dizendo que ela andava dando pro vizinho que tinha um carro. Perguntei
para ele que confirmou que não. Acreditei nele. Mas um dia encontrei um tênis
dele embaixo de nossa cama. Mas ela disse que tava lavando roupa pra fora. Eu
disse meu uniforme ta sujo, lava pra mim. Ela disse lavo só pra fora! Sai pra
beber pra entender. Daí umas pessoas chegaram de carro com o som alto. E com
eles estava a Sônia. O Cebola bebeu toda a cachaça num gole rápido, limpou a
boca e se levantou. E disse olhando para o copo: isso não pode ficar assim.
Pediu mais uma dose. Por que que a gente é assim, vociferou enquanto bebia.
Sônia percebe Cebola enquanto caminha na direção do banheiro.
Aparece uma mulher que aparenta uns quarenta e ter sido
bonita quando jovem. Imagina se uma mulher jovem pobre e bonita vai conseguir
algo sem estudar só se dar...ser honesta e bonita sem outras aptidões só mesmo
um boquete para ganhar algum dindin chega outra senhora uma vovozinha com uma
vozinha fraca pede um cigarro avulso e um liso de cahaça pura. Olha pro lado
com uma roupa velha mas de grife suja só o cabelido lambido do azeite a
oleosidade de dias sem banho representavam uma tentativa de asseio ela diz que
está esperando receber o dinheiro por ter cerzido as meias do dono do boteco,
mas ele certamente vai querer pagar em trago e cigarro. Vou comer o que? To com
nojo de tanto miojo, mas tem tanta
gente passando fome. Minha vizinha por exemplo: aquelas crianças passam fome e
frio. Vivem esfomeados e gripados. Ranhentos de pés descalços na vila.
Um senhor com aparência de que há dias não se barbeava, roupa
amassada entra e pede uma cerveja. Ela parecia ser distinto por seus gestos,
pela educação e vocabulário usado ao pedir a bebida. Já que ali a maioria se
atrapalhava com as palavras. O homem senta e começa olhar para os lados. Polícia
e nem vagabundo parecia. Só queria beber. E bebe aquela cerveja com vontade e
pede mais uma, agora com um saquinho de amendoim. Pede um prato e derruba o
amendoim ali. Come com as mãos manchadas pelo sol. A pele dele era oleosa.
Falou que trabalha na Pastelaria, por isso sua pele estavagordurenta, havia
fritado pastéis a tarde toda. Aquele ambiente sufocante de azeite passado.
Guizado de segunda a segunda trabalhado.
Chegou um guri de uns trinta e poucos, passou pela estreia
rua e sentou na cadeira junto a mesa mais próxima da calçada. E começou a beber. Primeiro pediu uma
cajebrina, uma gelada e dois copos. Bebeu em seco a manguassa. Pediu outra e
outra. Até tomar primeiro copo da cerveja. Olha para os lados e para o celular,
parecendo estar olhando as horas. Em seu semblante se ouvia seus
desapontamento...e nada dela. Até que já com os olhos de faróis baixo, puxou
conversa comigo. Começou a contar sobre a Lu, disse que o nome dela era Lu de
Lucrécia e que ela não gostava do próprio nome. Falava sobre baixinho, quase
cochichávamos. Depois que fui saber por que. Ele tinha a testa franzida,
preocupada. E os gestos de cabrito. Via-se um medo em cada movimento seu.
Ela aparecia com uns
pacotes estranhos e deixava na peça ele que alugava na pensão do fim do beco. E
que achou umas pontas de maconha no cinzeiro. Mas ela era simpática, além de
linda. Eles transavam e ela sempre ligada e ele na fadiga. Chegava as vezes com
a boca de Nike, meio torta. Travada. Ele não se importava. Olhou de relance para
a esquina a espera da chegada de Lu, ou de algo mais. As vezes quando uma
motocicleta se aproximava ficava aterrorizado. Disse para mim nunca tocar no
assunto com outra pessoa. Falava de quando namoravam, que ela era meio tarada.
Que ele esquecia que tinha que trabalhar no outro dia e ela ficava dormindo,
quando ele chegava ela saia e voltava de madrugada naquela loucura toda. Andava
numa canseira que vou te contar. E a Lu que não chegava. E ele sem dinheiro pra
mais uma. Puxei uns trocados e lhe paguei uma cerveja, estava boa a conversa.
Eu tomei mais uma água e ele me olhava enquanto se molhava. Havia virado parte
da cerveja na mesa. E na mesma hora pensava essa Lu que não aparece. Cadela
desgraçada. Aposto que vai chegar chapada de novo e de madrugada. Hoje não tem
mais. Vou trancar a porta. É mas não adianta dia 5 tae e ela volta dae.
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