quinta-feira, 14 de abril de 2022

Bar e lar

 

BariLar
Seu G é um senhor, de mais ou menos 60 anos, serve de confidente e conselheiro dos frequentadores de um bar próximo a uma comunidade de uma grande cidade. No local os clientes vão beber e falar sobre suas experiências e vivências, parece que um se importa com o outro, tipo uma irmandade...uma família, tanto que o nome desse bar é BariLar.
Seu G está tomando uma cervejinha no BariLar. Chega um cliente que pede uma gelada, toma um grande gole e olha para cima e diz - Sou uma aberração. Minha filha não me ama, como seria bom se eu pudesse abraça-la, se ela não fugisse de mim...É que sou colorado e ela gremista, e além do mais, eu amo churrasco e ela é vegetariana. Parece que tenho palavras engasgadas na garganta, frases que nunca a disse. Moramos na mesma casa, mas parece que há um muro entre nós. Seu G, por sua vez, toma um gole de sua cerveja e olhando para cima também, diz - Achem uma sintonia, um fator de cumplicidade. Faça desse muro uma ponte a de esse abraço, desengasgue o encontro de vocês, faça acontecer. Bote pra fora essa voz e grite “Eu te amo”. O tal cliente olha para o chão, faz um beiço e sacode a cabeça para cima e para baixo. Seu G e cliente bebem suas cervejas.
O que decidir ser em seu interior é o que vai ser em seu exterior.
Da dos du

 

Ele saíra para esmolar uma grana, mas sabia que nada receberia. Por que dariam? As pessoas não dão dinheiro para sustentar os vícios de um viciado, se ele quer algo sabe, que tem ser roubado. Por que ele não trabalha? O dinheiro que levo um mês pra ganhar, gasto em um dia. Esse salário é uma mixaria. As pessoas fazem o que podem para satisfazerem seus vícios. Com certa inquietação olhou para os lados e acelerou o passo seguindo o seu caminho. Muitos riam de sua desgraça. A compaixão não está na moda. Então...abanou suas mãos vazias e saiu sacudindo com os ombros, tipo o que fazer? é assim. Nem sabe se  o desprezo dos transeuntes e comerciantes se dá pelo seu estado mental, pois pelas suas roupas ele confunde com as outras. Todos mal arrumados, equipados pelas grifes copiadas clandestinamente. Sai cambaleante com ar grave e dignidade. Apresentar alguns furto já feitos em casa. Os kilos de açúcar, arroz e farinha. As latas de azeite e leite em pó. Tudo já virara pedra e pó. Vendido ao Delfino. Trocados por um fino, um pino ou uma pedra. Que sabe por uma cachaça ou ceva. E esmo que seja por um dinheiro para participar de uma churrascada. Caráter é o cara ter o que comer, vestir e onde dormir.  Muitos trabalham de manhã cedo a tarde da noite para gastar tudo no bar. Mesmo bebendo para anestesiar suas rotinas de vida, não conseguem engolir seus sofrimentos. O vazio por nada é preenchido quando chega a hora de adormecer para acordar de novo naquela dura realidade. Bebe somente para desfocar seu sofrimento que mesmo sentindo tudo amanhã dobrado ao acordar desesperançado, louco por um trago, mas não...tem que trabalhar para ganhar o sustentoxxxx. Ergue-se uma vontade de gritar aos quatro ventos, mas não sabe o que transmitir. Já que não pensa um jeito de sair desse tormento. Gritar um vazio em eco que nada retorna a não ser o silêncio ensurdecedor de sua alma inquieta. O universo não aceita uma vida sem verso, sem poesia. Põe-se mais um dia e nada da vida querida desde a infância. Muitos acham que por beber e  roubar para me chapar,  não tenho sentimentos. Não gosto de ler e sei que a maioria daqui também não gosta, mas sinto que eles leem em minha testa o que não sou, somente o que estou sendo. Não encontro nenhuma sensibilidade, ou compaixão nessas pessoas, parecem que me querem morto ou preso bem longe daqui. Que espetáculo seria. Eu nos jornais, Tv e rádios... Mas tudo se evapora tão rápido na vida louca que se exprime pouca ou loucamente as ideias de uma vida melhor. Já nasci meio doido, e para completar ainda fui escolher essa vida de ostentar o que não tenho. Moro num ligar próximo ao centro, perto da arena. Um lugar selvagem... Sou desprezado e humilhado, veja até que ponto chegou minha miséria...

Cebola - Vim parar na capital cheio de vontade de trabalhar e agora estou aqui puxando esse carrinho e juntando lixo. Só o que posso fazer, não tenho pra onde ir. Moro numa casa de favor, perdi a mulher por eu ser facilmente irritável depois que bebo. Não fico violento, mas minha boca fala mais besteira que a...minha instrução a, b. c e, i o u sei do alfabeto. Só ouço música. Tipo aquela do beber até cair... sou corno mas te amo tanto minha donzela... estou com insônia por causa da Sônia anda sumida a vagabunda se eu andasse no meu perfeito juízo ela não tinha feito isso. Fugir com o vizinho..Uma vez fiquei velando o sono dela e ela ali dormindo de boca aberta, parecia um anjo aquela peste  beijei seus pés de unhas longas e vermelhas quase a noite toda. Tirei a calcinha dela que tava com uma freiadinha e um pouquinho de coco na parte onde fica o brioco. Bebia e a olhava. Linda. Bebi tanto que não consegui levantar, deu um sono e dormimos juntos. Acordei vomitado e ela ficou braba. Esquentei na chaleira uma água pra fazer um café e ela usos pra se lavar e sair. Fiquei brabo e bebi aquele dia direto. Até que pessoas ciumentas e mal intencionadas começaram a vir no meu ouvido dizendo que ela andava dando pro vizinho que tinha um carro. Perguntei para ele que confirmou que não. Acreditei nele. Mas um dia encontrei um tênis dele embaixo de nossa cama. Mas ela disse que tava lavando roupa pra fora. Eu disse meu uniforme ta sujo, lava pra mim. Ela disse lavo só pra fora! Sai pra beber pra entender. Daí umas pessoas chegaram de carro com o som alto. E com eles estava a Sônia. O Cebola bebeu toda a cachaça num gole rápido, limpou a boca e se levantou. E disse olhando para o copo: isso não pode ficar assim. Pediu mais uma dose. Por que que a gente é assim, vociferou enquanto bebia. Sônia percebe Cebola enquanto caminha na direção do banheiro.

Aparece uma mulher que aparenta uns quarenta e ter sido bonita quando jovem. Imagina se uma mulher jovem pobre e bonita vai conseguir algo sem estudar só se dar...ser honesta e bonita sem outras aptidões só mesmo um boquete para ganhar algum dindin chega outra senhora uma vovozinha com uma vozinha fraca pede um cigarro avulso e um liso de cahaça pura. Olha pro lado com uma roupa velha mas de grife suja só o cabelido lambido do azeite a oleosidade de dias sem banho representavam uma tentativa de asseio ela diz que está esperando receber o dinheiro por ter cerzido as meias do dono do boteco, mas ele certamente vai querer pagar em trago e cigarro. Vou comer o que? To com nojo de tanto miojo, mas tem tanta gente passando fome. Minha vizinha por exemplo: aquelas crianças passam fome e frio. Vivem esfomeados e gripados. Ranhentos de pés descalços na vila.

 

 

Um senhor com aparência de que há dias não se barbeava, roupa amassada entra e pede uma cerveja. Ela parecia ser distinto por seus gestos, pela educação e vocabulário usado ao pedir a bebida. Já que ali a maioria se atrapalhava com as palavras. O homem senta e começa olhar para os lados. Polícia e nem vagabundo parecia. Só queria beber. E bebe aquela cerveja com vontade e pede mais uma, agora com um saquinho de amendoim. Pede um prato e derruba o amendoim ali. Come com as mãos manchadas pelo sol. A pele dele era oleosa. Falou que trabalha na Pastelaria, por isso sua pele estavagordurenta, havia fritado pastéis a tarde toda. Aquele ambiente sufocante de azeite passado. Guizado de segunda a segunda trabalhado.

Chegou um guri de uns trinta e poucos, passou pela estreia rua e sentou na cadeira junto a mesa mais próxima da calçada.  E começou a beber. Primeiro pediu uma cajebrina, uma gelada e dois copos. Bebeu em seco a manguassa. Pediu outra e outra. Até tomar primeiro copo da cerveja. Olha para os lados e para o celular, parecendo estar olhando as horas. Em seu semblante se ouvia seus desapontamento...e nada dela. Até que já com os olhos de faróis baixo, puxou conversa comigo. Começou a contar sobre a Lu, disse que o nome dela era Lu de Lucrécia e que ela não gostava do próprio nome. Falava sobre baixinho, quase cochichávamos. Depois que fui saber por que. Ele tinha a testa franzida, preocupada. E os gestos de cabrito. Via-se um medo em cada movimento seu.

 Ela aparecia com uns pacotes estranhos e deixava na peça ele que alugava na pensão do fim do beco. E que achou umas pontas de maconha no cinzeiro. Mas ela era simpática, além de linda. Eles transavam e ela sempre ligada e ele na fadiga. Chegava as vezes com a boca de Nike, meio torta. Travada. Ele não se importava. Olhou de relance para a esquina a espera da chegada de Lu, ou de algo mais. As vezes quando uma motocicleta se aproximava ficava aterrorizado. Disse para mim nunca tocar no assunto com outra pessoa. Falava de quando namoravam, que ela era meio tarada. Que ele esquecia que tinha que trabalhar no outro dia e ela ficava dormindo, quando ele chegava ela saia e voltava de madrugada naquela loucura toda. Andava numa canseira que vou te contar. E a Lu que não chegava. E ele sem dinheiro pra mais uma. Puxei uns trocados e lhe paguei uma cerveja, estava boa a conversa. Eu tomei mais uma água e ele me olhava enquanto se molhava. Havia virado parte da cerveja na mesa. E na mesma hora pensava essa Lu que não aparece. Cadela desgraçada. Aposto que vai chegar chapada de novo e de madrugada. Hoje não tem mais. Vou trancar a porta. É mas não adianta dia 5 tae e ela volta dae.

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