terça-feira, 28 de julho de 2020

Agora


Um velho usa sua blusa suada da suástica que o estica ao passado passando em seu velho corpo cansado suado
Solta suas botas pelo caminho por onde quando jovem já fez grandes bostas e apostas
Ah vou tarde já vai
De couro sua careca brilha sua mente que sente o momento puro da sorte de sua morte em velhice
Quantos amigos jovens o esperam
Seu olhar alvo como seus cabelos caindo ao chão
Cala a boca por falar que em suas mãos estão os calos rebuscados
A velhice é invisível da juventude
Uma atitude dos mais velhos seria talvez não olhar pra trás
O beijo cruza a vida em zoeira tipo poeira escondida na ferida inflamada
Que infla a pele dourada de pus
Pus-me daqui pra lá do vale da vida
E agora sentado em minha lápide lapido o meu pedido
Se houvesse em mim ouvidos
Faria não duvido
De um caco de vidro espelho de meus atos ensaios
De meus ais nos cemitérios dos mistérios
Agora pego minha alma e levo de suas correntes o carma
E com calma sigo cego sem mais nada do que minha alma lavada
Levada ao mais calmo vento em brisa
Minha vida desliza
No mais estou indo ou vindo embora


quinta-feira, 23 de julho de 2020

Se não tenho medo de viver, tenho que não ter medo de morrer

https://www.youtube.com/watch?v=dBF78tA443A



Ela é minha gata
Uma sereia da noite
A noite azul marinha exige demais da gatinha
Assim ela espalha seu fogo
Seu jogo é uma fagulha na palha
Uma sereia da noite e eu a amo
Tenho muitos amigos que a querem também
Minha gata disse que eu sou um monstro que destrói sua rara beleza
Sua beleza de sereia da noite
Mas eu disse que o que destrói sua beleza de sereia noturna é a própria noite
Que ela aceite é o açoite da noite
Ir dormir todas as manhãs com o sol batendo na janela
Destrói eu e ela
Mas ela seria uma sereia da noite

Uma sereia ela seria se não fosse da noite sombria
A noite é para as estrelas e estou entre elas
Vá gatinha viver o dia enquanto eu continuo a me odiar na noite
Seguro eu minha onda ti amar 
Siga vá
Vou me gavar de ter te tido
Num bar escondido


Toda gata é da noite contada noite
Mas por favor não vá embora
Fique do meu lado
Mantendo-me acordado


quarta-feira, 22 de julho de 2020

Gripe espanhola de 18 x Covid-19





Gripe Espanhola de 1918 x Covid-19
A 1ª Grande Guerra ainda ardia na Europa em 1918, enquanto uma gripe, causada pelo “Vírus Influenza” se alastrava, e devido a algum tipo de censura, muitos países não enfatizavam a doença. A Espanha era a que mais contabilizava a peste, assim esta recebeu erroneamente o nome de Gripe Espanhola.
Cerca de 50 milhões de vítimas morreram com a gripe que se tornou pandemia, e a medicina da primeira metade do século XX conhecia poucas alternativas – distanciamento social e uso de máscaras – porém, para parte da população mundial essas medidas eram vistas como erradas (semelhantemente a hoje), a negação à gripe e às medidas de saúde foram rechaçadas, mas não podemos esquecer, vivíamos em uma época com menos informações e pouca tecnologia.
Ao Brasil essa doença pandêmica chegou de navio do estrangeiro, como era de se esperar, pois os navios que faziam o transporte intercontinental de pessoas e mercadorias. A doença acabou matando o nosso então Presidente Rodrigues Alves, que havia sido eleito e não chegou a tomar posse. A gripe espalhou-se rapidamente e, cerca de 34 mil pessoas morreram, sendo que a população brasileira à época era de aproximadamente 30 milhões de habitantes. (Não existe unanimidade entre as fontes sobre o total de mortos na epidemia da gripe espanhola).
O medo vagava pelas ruas e gerava pânico, os corpos dos mortos permaneciam nas ruas por semanas, quando o poder público passou a obrigar a retirada e o enterro das vítimas da gripe, em valas coletivas e muitas como indigentes.
Os "tratamentos infalíveis" se espalhavam, como era o caso do uso de tabaco, balas de ervas e tônicos como remédios para a doença. Outras recomendações era queimar alfazema ou incenso para "limpar o ar" — tudo sem comprovação científica. Ficou famosa uma mistura de cachaça, alho, mel e limão que prometia curar a infecção, conforme alguns historiadores foi nesta época que surgiu a Caipirinha.

Relatos da época sobre a Gripe Espanhola no Rio de Janeiro. Pandemia de 1918
Rapidamente, a cidade se viu à beira de um colapso. Faltavam alimentos, remédios, médicos, hospitais que recolhessem os doentes mais graves. Itens básicos foram alvo de superfaturamento e escassez, impedindo que as demandas instauradas pela moléstia fossem atendidas. Havia dificuldades para prestar socorro para toda a população, pois os serviços permaneceram restritos aos centros urbanos, ficando as localidades distantes em grande carência. Pouco a pouco, as ruas da cidade se transformaram em um mar de insepultos, pela falta de coveiros para enterrar os corpos e de caixões onde sepultá-los. A moléstia ganhava uma violência nunca antes presenciada. (Sampaio Vianna, 1919).
Uma testemunha ocular do evento empresta-nos aqui suas lembranças, para que possamos ter uma ideia mais clara do impacto psicológico causado pela epidemia, que, segundo ela: Foi uma coisa pavorosa! Nunca, em toda minha vida, vi algo que chegasse perto daquela situação infernal! Não tinha na cidade, rua em que pelo menos em uma casa, a família inteira falecera. Em muitas, todos da família estavam acamados, e cabia a quem pela rua passasse alimentar e dar remédios. Geralmente eram os coveiros, lixeiros e policiais que acudiam, dando remédio e alimentando. As pessoas colocavam panos negros nas janelas e portas das casas, para que eles soubessem que ali tinha gente doente e viessem socorrer. O pior de tudo é que estava morrendo gente aos borbotões, e o governo dizia, nos jornais, que a gripe era benigna. Certo dia, os jornais noticiaram mais de quinhentos óbitos, e mesmo assim a gripe era benigna, benigna, (...) As mortes eram tantas que não se dava conta do sepultamento dos corpos. Na minha rua, da janela, se via um oceano de cadáveres. As pessoas escoravam os pés dos defuntos nas janelas das casas, para que a assistência pública viesse recolher, mas o serviço era lento, e aí tinha hora que o ar começava a empestear; os corpos começavam a inchar e apodrecer. Muitos começaram a jogar os cadáveres em via pública. Quando a assistência pública vinha recolher os cadáveres, havia trocas dos podres por mais frescos, era um cenário macabro (...) (Nelson Antonio Freire, 11.9.1990).
As charges ilustram as ferrenhas críticas veiculadas nos jornais cariocas à medicina oficial, que apresentava controvertidos diagnósticos e explicações na maior parte das vezes incompatíveis com a realidade que se instaurava no seio de uma sociedade que vacilava à beira de um colapso. Vencidos em seu próprio terreno, a maioria dos médicos reproduzia o discurso da inevitabilidade do mal, mas, na verdade, estavam diante de algo muito além de seu conhecimento e da capacidade da ciência e da medicina da época.
A forma irônica, utilizada não só por parte da imprensa, como por setores políticos, na apresentação de suas críticas, revelava a não aceitação do fato de estarem sendo atacados por uma doença desconhecida, os altos escalões e as classes abastadas também se mostravam insatisfeitos, o que desencadeou grandes tensões entre a sociedade e as autoridades governamentais e sanitárias. O discurso da medicina oficial passou a ser encarado com desconfiança pela população, uma vez que este não conseguia explicar o que estava acontecendo. Tais críticas devem ser encaradas também como fruto da insegurança da população diante da desestruturação de sua vida cotidiana (Delumeau, 1993).
Texto tirado da Internet - Adriana da Costa Goulart - Mestre em história social pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Contribuição Prof. de História Rogério Carriconde