Definição para ex-voto
Abreviação latina de ex-voto suscepto ("o voto realizado"), o termo designa pinturas, estatuetas e variados objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido. Trata-se de uma manifestação de arte religiosa e popular. O voto feito aos deuses, por sua vez, também adquire formas muito diversas: placa, maquete ou pintura descrevendo os motivos da promessa, ou pequenas réplicas (de barro, madeira ou cera) das partes do corpo afetadas por moléstias (perna, cabeça, mão, coração etc.), chamadas por alguns de "ex-votos anatômicos". Designam-se "ex-votos marinhos" aqueles em forma de barcos, realizados em regiões litorâneas. Colocados em locais públicos - capelas ou sala de milagres -, os painéis ou presentes votivos trazem freqüentemente a inscrição "ex-voto" ou "milagre feito".
O tipo de troca com o divino que o ex-voto expressa, artística e ritualmente, é uma prática observada em todas as épocas e culturas. Pairam dúvidas sobre sua origem, embora algumas fontes localizem-na entre os fenícios. Na Idade Média, o ex-voto é hábito da nobreza, que encomenda os objetos votivos - em geral pinturas - a artistas conhecidos. Até o século XVI, o ex-voto pintado se mantém preferencialmente relacionado às classes mais abastadas; e, a partir desse período, as imagens votivas se disseminam pelo mundo ocidental, aparecendo cada vez mais em imagens populares.
No século XIV, especificamente, um tipo de imagem votiva predomina. Trata-se de pintura sobre madeira, cartão, tecido ou vidro, de caráter descritivo, cuja composição obedece a um padrão determinado: na parte inferior, encontra-se a imagem daquele que pede a graça, em postura de prece ou veneração. Atrás dele, o motivo do pedido, retratado de forma realista, em tamanho reduzido. Na parte superior, figura o personagem sobrenatural evocado, dominando a cena: ora colocado em trono ou altar, ora flutuando numa nuvem. A representação pictórica traz invariavelmente a inscrição: "ex-voto".
No Brasil, trata-se de uma tradição que remonta ao século XVIII e ao ex-voto pintado do convento de Santo Antônio de Igaraçu, em Pernambuco, procedente da antiga igreja de São Cosme e Damião, 1729. Nele encontra-se relatada a epidemia da peste que atinge o Estado em 1685, e que não teria alcançado a cidade em razão da promessa feita pela população. Em Salvador, no mosteiro de São Bento, encontra-se a pintura de 1745, que representa a figura daquele beneficiado pelo milagre, Agostinho Pereira da Silva, que teria escapado de ladrões em razão da promessa feita a Nossa Senhora dos Remédios. No Museu do Estado de Pernambuco, é possível ver três painéis, datados de 1709, representando as batalhas dos montes Guararapes e das Tabocas, e o apelo feito a Nossa Senhora dos Prazeres. Ex-votos esculpidos em madeira se fazem presentes em diversos Estados do Nordeste brasileiro, principalmente Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.
Ainda que, de modo geral, essas obras sejam anônimas, é possível citar os nomes de alguns artistas como Dezinho de Valença (1915), Mestre Noza (1897 - 1984), e de Zé Leão, muito conhecido como escultor de ex-votos. O Museu Câmara Cascudo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, mantém uma importante coleção de ex-votos de várias regiões do Estado.