Ó! O monstro de mim mesmo
Leia esse texto rapidamente, sem parar, nem tentar entender durante a leitura. Notará q a velocidade na leitura é que trará a compreensão do mesmo.
Subir é saber descer
Como seria bom de nada saber
Para tudo o que acho que sei de novo aprender
Ah, como é bom descobrir! Redescobrir então...
Do íntimo chão, desenterrar novos velhos tesouros
A isso sinto a força de um touro
Como seria o ser antigo?
Sem um novo olhar sobre si
Uma (abusada) e debruçada visão.
Tirando o tédio de cada conteúdo.
Um peso crescendo a inversa força.
Como é bom poder iniciar algo
deixando o fim no ar,
a quem quiser continuar...
Ó o monstro de mim mesmo.
Assombrosamente só, resolvo criar algo.
Somente assim, tão só, com clareza sinto o que posso imaginar.
A Criação
Na beira do mar de amar,
Eu, um navegante eterno e inquieto da vida,
A observar na distância,
Na linha salgada do horizonte:
A minha vida.
Pro longe olho,
Como se de lá estivesse vindo,
Ou pra lá indo.
Certo que estou lá ou aqui, tanto me faz.
Sol. Solidão.
Sentado na praia.
Meus olhos a lacrimejar me misturam ao mar.
A pura reflexão surge na água salgada,
Vá! Voe alma alada, longe quero estar.
Mente alagada.
Vou dar a largada ao livre imaginar.
Em sonhos a sonhar, me sonho.
Sonho vivo. Flutuo no éter.
A partir de agora tudo o que pensar, imaginar, me fará decolar.
E tudo que notar vou anotar.
Que no PC meu pensar flua ao teclar,
Quero ao ler, sentir que escrevo tudo que sinto.
Tudo!!!!!!!!!!
Liberto das horas na imensidão do infinito.
Subo na árvore da montanha mais alta,
Jogo-me ao plano divino.
Parte a nau, minh’alma está numa brisa. Minha mente em brasa escuta.
A esperança sussurrando palavras a meus bons pensamentos.
É a voz do (a)mar que fala.
Escuto!
Ela se cala.
Calado ouço o verbo, calmo.
Penetrando no silêncio
Desdobrando sentinelas.
Mesmo com medo abro a porteira.
Ajo em esgotos.
Meus desgostos são dejetos combustíveis.
Orquestro energias ecológicas.
Queimo todas as possibilidades imaginárias.
Sem julgamentos nem cadeias,
Me liberto quieto.
Nesta fantasia roteirizo e dirijo meu caminho
Crente no destino.
Entro no sonho de criar ar limpo pra eu respirar,
E não pirar com essa poluição.
Proclamo.
A inspiração isola-me.
Divina natureza humana.
Misturo misteriosos símbolos
No afã de gastar energia para decifrá-los depois.
Minha criação é essa, salvar meu mundo de mim.
Não quero ser adulterado. Apago tudo e retorno a beira mar.
O CRIANÇÃO
Vou lhes relatar as fantasias que os sonhos permitem.
Sou capaz, silencio o sentido de inquietude da minha vida.
Paro na frente desse mar de amar, enjoado de falar,
Só falar.
Mudo,
Recolho minha língua,
Fico mudo a escutar.
Alcanço o céu de minha boca em silêncio.
Conecto-me ao umbigo do mundo.
–Ouça meus pensamentos vivos em ti,
Eternamente no agora.
Ouço (lendo no éter) as coisas descritas
Talvez anunciem ao nosso sentimento-raiz
O que um dia estará sentindo,
Se me leres
Se concentre.
Snif. É noite.
A neblina da loucura perambula pela madrugada,
Uma névoa de sentimentos e medos.
A escuridão não dá onda, mas nos muda
Sinto o louco inebriar d’uma pedra.
Não fumo mais,
Mas prenso o ar e o pensar
Entre as paredes de meus livres pulmões.
As luzes dos apartamentos se apagam,
Minha libido acende
Encharcando minha cueca.
Dispo-me.
Amplamente nu, refresco-me, macho.
Só, imagino ela,
Ou você mesmo, me fitando.
Um convite a se jantar.
Olhos acesos,
Brilhantes como dois sóis,
Trespassando os lençóis.
-Imaginação não minta,
Estou só!
E sufocado na minha caverna de detritos.
Esses destroços apoiam essa insana observação:
Ligo p’ruma puta, velha amiga minha. -A prostituição unida a vícios, mostra de cada um, duas personalidades absolutamente reais e imperfeitas. A carne crua da solidão uiva ao luar, e nos faz recuar a nossa porção animal. O reprimido expresso no excesso; um comprimido para eu anestesiar minha lucidez. O cinza contínuo da vida sai alfinetando minhas cores, transformando a vida num espetacular espetar de dores. Problemas existem sempre, me prendo a soluçar e nada solucionar. Um drama social de amadurecimento ou apodrecimento é se render a prazeres?
A puta chega, não conversamos, transamos várias vezes. Na realidade encho camisinhas, mas na verdade não sinto nada. Amanhece. É a nova vida que surge a cada novo amanhecer. Amanhã ser ou hoje ser? O sol dá mais um dia de solidão a todos. A puta me beija a mão, esvazia o meu bolso. Ela vai gastar a grana num salão de beleza, eu fico no solão de minha solidão.
Tomo um boldo. Vejo meu reflexo no vidro sujo, minha face podre de ontem ter bebido tudo. Penso enquanto esvazio minha consciência - Como é fácil se destruir sem nada sentir. Se embriagar de desejos, mandando tudo p’ralgum lugar que sempre vai em mim dar.
Perdi o controle da minha história. Estou entre o fogo cruzado do olhar dos normais a me condenar e o dos loucos nem aí pra mim. Enraiveço com pratos sujos, cheiro um pó no espelho. Quebro o espelho, a cara e o nariz na busca de ser feliz. Confesso. Me professo, está na hora de parar, sair dessa situação de não me dominar.
Essa observação é pura masturbação. Conheço-me, orgasmo
na mão me organizo então.
Primórdios das discórdias
Após essa antemanhã adormeço.
Sono em sonho.
Raia-se para mim uma das manhãs da infância.
Como se fosse é.
Do pai e do adulto de meu ego, liberto-me criança.
Em transe:
-Brinco nos fundos de casa, protegido por uma antiga parreira de uvas. Nas poças d’água em barquinhos de papel navego. Mamãe pro café chama. Tomo minha primeira “ina”, então cafeína, depois o sol brilha mais forte. Corro pra baixo da parreira, dela vem um desejo de vinho. Escondido tomo vermute, que sei onde papai guarda. Ninguém vê que o vermute da garrafa a mim muda. Mudado vejo. As folhas secas da videira se espalham pelo chão, varro e as junto. Fecho um baseado infantil. As enrolo nas folhas vazias de meu caderno, cheia de meus temas. Brincadeira traiçoeira indistinta ao destino inexorável de antepassados, fumar.
Eu, criança bêbada sob a fumaça da videira. A névoa da vida vendo inteira. No frágil brilho de meus olhos inocentes, sinto que me comunico com o mundo adulto e adulterado. A metafísica marca presença nas experiências passadas e deixa o mesmo ser, pra sempre, frente a frente. Hoje acredito que vi uma luz apontando para meu dedo, cutucando da ferida o medo. O muro artificial do tempo medido (nosso invento) quando evocado desaba naturalmente. Deságua uma restituição líquida, ligada a viagem da vida. Estou por um instante diante do eu criança, do eu adulto e do eu pai. Analiso-me? Que nada, a profundidade em certos assuntos atola o ser. O ar me locomove a poesia leviana.
O vento abana o perfume de um limoeiro vizinho à parreira. -Não freio, a idos, os devaneios que gosto. Brinco de índio, pé no chão, embaixo do limoeiro, num monte de cacos que brilham na minha lembrança. Eu me juntando aos pedaços: auto-análise ou auto-hipnose. - Sou eu que sigo esse caminho viajante sozinho, a sombra de uma senha à passagem de viver e não perder a viajem. Com medo viajo, escrevendo me acho. Assim vou vendo como sou e o que fui. Apago o que criei, me arrependo. À volta navego em lágrimas. Não posso ser normal. Descer ao comodismo me incomoda.
O DILÚVIO
Na beira do mar de amar, determinado a embarcar no horizonte desconhecido com minha arca. À evolução tomo uma resolução. Arcando com peso de minhas decisões, decidi largar tudo e morar num lixão que havia no parque de diversões que para mim é viver. Bem antes que eu soprasse as palavras que ventam em meu peito, o medo às trancavam. -Passado, não quero passar a vida por ti amarrotado. Trancado nas grades do medo, nada me comprova que sou onde estou. Não sou submisso a isso. Sou um espírito nesse mundo frio e capitalista, num país tropical. De servo do medo torno-me rei da dor. E a dor ensina. Não sou mais a mesma velha ovelha negra. Minhas orelhas cresceram a proporção de minhas olheiras. Ouço o que digo. A minha vida é meu reinado. -Escute o ar na garganta e garanta a si canção e dança.
Ao longe olho o horizonte silencioso. Penso e sinto uma questão. O quanto suporto desse silêncio úmido? Unido a mim está o início e o fim. No meio, a ponte atravessa a cabeça ao coração. O ELO, a peça que faltava se encaixou. Estou louco, a ti então assim pareço. Comecei a observar humilde e humilhado. Todos sabem o que eu quero, mas evitam se contar. Bom dia, o seu sol é nosso em nossa estada conjunta. As palavras escorregam pela minha dor, enquanto se forma um arco na íris do meu olhar.
Acampo em meu sentimento, na rua do lamento
Do outro lado do sistema, na rua deserta, na minha morada, por incrível que pareça há tudo. Da sarjeta que gostava, assim ali estava. Custava-me acreditar que ali era o meu lugar, era ali que ia aprender a viver. Ali vivia por que tinha que ali estar. Chuleando comida. Minha mente doida rodando loucamente, em harmonia ao que estava vendo. Logo se formava um estádio espanhol, uma tourada, eu com um lenço chorando, vermelho de medo. O touro vindo, como o mundo, naturalmente selvagem. Livre vi que podia da frente sair. Saí. Das celas do ter pra ser saí. As amarras da sociedade, naquela situação me afrouxavam. Não era um desistir. Era um agir, uma forma estranha de amar, me refugiar na rua pra observar. Uma nova vida nascia fora da agonia do querer, finalmente eu sou e estou, sem poréns. Agora o adiante, o lá eterno, é aqui e agora. Vejo. A poesia me dá a luz.
Pela fenda vejo as pessoas presas.
Vítimas da falta de tempo. Da sua pressa.
Senti o ritmo preso do coração ao peito, mas livre por amor a si.
Como um livro aberto ao vento, me desfolhei na manhã.
Oh! Sim,
Sou mais uma vida na vida. Sim!
Mas sem policiar pensamentos.
Sem pensar só em mim.
Belo sou eu mesmo.
Sou mais ou menos.
Juntos somos fortes.
Divido tudo
Multiplicado com nada.
O resultado imenso é a vida.
Desço até subir. Renasço sem morrer. Passo pelo túnel vejo a vagina de mamãe transando com papai, sinto o prazer deles. O pênis de papai pensa que não sei que de seu saco ressurgi de fato. E agora tenho meu próprio pênis e não penso em amolecer a esta dura vida. Um craque da bola me passa a redonda na frente do gol e eu, cabeçudo, cabeceando pela linha de fundo. E a torcida me vaiando não vendo que eu não existo, ao menos neste sonho futebolístico.
Retorno. Entorno meu pensar no meu estar a escrever.
O som do canto de minha boca encanta a criança que habita minha mente aflita. Ando onde a luz não bate. Me amasso num canto. Se me amasse? M’esquento até enquanto agüento. Não saio. Caio num sono médio, onde o silêncio não combate o som. Invisível apareço para as pessoas, que claro como sempre não me notam. Escondo-me onde me levo, e, incrível, acredito no que invento. Bate um pé 41 (meu número) de vento. Aproveito numa folha solta me escrevo; alô! estou a voar, quero me comunicar. Parece que vou cair, o vento parou nesse mesmo lugar. Chega de chegar quero ir. Vou continuar, a música recomeça. É agora. Chega!Chega! Você mesmo chega mais. E mesmo que não me entenda, atenda. O show tem que continuar. Estamos mais juntos agora. Eu, um rei da dor e servo do medo divido com você o reino do amor, se vier. Alcança-me uma forquilha vou me puxar e me jogar. A vida é um jogo sem competição. Lúdico, misturo o que não penso, com o que sou. E contigo me lendo mesmo não me vendo estou livre circulando pelaí. Gastando o vento, gostando do vento, indo adiante voltando de tanto ir à vida circular.
Circo. Lar. Sabe como é não sei. Sabe?
Minha dívida é com a vida desde Adão peladão a Eva gostosa, aos romanos não devo explicação. Sou um humano assim, uma missão eu sou. A solução pisca cada vez que pisco. Como um flash o sol me fotografa. A lua aqui dentro, solto pra rua. As nuvens vêm nuas me lavar e me levar pelo doce horizonte. É marrom a terra, estou nesse tom a cantar e dançar. As laranjas caem de pé na minha cabeça. Peraí mais uma visão; estou dançando no sótão de minha solidão, lá vem companhia, é você caro leitor, cantando. Vejo sua cabeça mexendo. É, amigo leitor somos amigos mesmo não querendo, está me lendo. Insista agora! Somos ar e éter quando aprendemos a amar e ter. É que o dia esta noite está lindo e neste canto sujo minha voz fica limpa e leve, sobrevoa todas as cabeças essas mesmas em cima do coração. Espero estar alcançando o todo daqui deitado sonhando. Solando meu pensamento. Não é mentira, não me tira amigo. Se coloque no nosso lugar. È lindo ser amigo. Nós somos. Não espere aí, o espaço é livre, nele há lugar para todos sonhos. Vá! Não pare, não olhe para mim. Não seja o que está escrito, sim o que você está se dizendo. O show vai pra sempre continuar se sonhar. As paredes mudas se calam, o ar vareia leva areia aos meus olhos, estou a chorar é bom me olhar, estou retornando agora olhe para onde o claro aponta. A vida vai continuar sabe um sabiá veio me contar que embaixo da pia está um pingo a pingar e q ele é um pássaro pronto pra voar.
O sol é nosso abrigo estelar. Enxugo-me do chão ao evaporar. Se tudo o que eu queria tinha ficado para trás, corri tanto q fiz a volta, vejo tudo de volta a minha frente. Resolvi penetrar no silêncio sonhado. Entrei num sonho de criar o ar que a minha vida está a circular. Um novo ar pra respirar e não pirar com que via. Eu um passageiro eterno e inquieto, me acalmei. Aclamei. Inspirei-me. Isolei-me. A vida é cíclica e parece a tudo retornar.
O sintoma de pânico não me deixa agir com bom senso. Devo fazer algo, sinto que neste caos há culpa minha. Nada espero, portanto não me desespero. Estou mais aqui do que lá, agora consigo chorar e canalizar a energia dessa água que desce da minha face. Na solidão reflito. Concentrado no chão minha pele se enruga ao medo. Desprezado a si perante ao todo, esqueci do prazer ao só sofrer. O portal depois de tanta prova e desgosto se abre. Sei o gosto e o desgosto. Volto ao meio da minha vida, com a experiência tomo o rumo no prumo. Parece que adivinho o que sinto.
Descobri que não há morte como a pensamos, só há o medo de morrer. Sem medo e sem coragem, na vontade descobri o meu segredo. Que agora conto.
Ao que havia antes de nascer voltei. O filho sempre a casa retorna. Lá onde, suponho, nasceu meu umbigo não há perigo, retornei.
Senti-me fraco ao amar tanto. Meio tonto deparei-me com meu avesso. Notei que ao meu destino travesso resisti. Não concordo com nada do que está acontecendo. O progresso parece estar a serviço só do mal, um desequilíbrio total. Um animal dito irracional parece ter mais espiritualidade do que muito humano atual.
Não espero nada mais do que uma frugal refeição. Um simples raio de luz codifica e limita esta dimensão. Transgressão é o pensar. O vento que sinto ao descer a escadaria da miséria humana. Não eu não abandonei tudo, não havia o eu em meio ao tudo. Eu um nada, na verdade não via o todo. Então o que me resta? Se não tenho nada a perder. Vou tentar ir ao fundo e me impulsionar.
Portanto só, sem caminhos, me recolhi, preparei-me para empreender a viajem que só se empreende só. Sei que talvez muitos não me entendam. Como pode entedender-me, ou mesmo verme. Se me transformei num verme, invisível ao olho teu, mas com potencial sem igual. Sou o herdeiro da sobra. Sou a falta de esperança do teu olhar a mim. O que me resta dessa vida agora é te observar da rua. Sou o teu avesso. Sou o estilhaço do espelho de aço, refletindo tuas ações sem reflexões. A revolta atravessada na minha garganta aflora agora em paz. Vivia com a corda no pescoço. A tua gravata me enforcava. Que esmola nada. Não força. Enquanto estou atravessado na tua garganta, calando tua voz, agora muda de medo diante desse meu desatino de escrever meu destino.
Ó o monstro de mim mesmo. Tudo para não ser um normal, como tu. Que aceita tudo, ou comumente não faz nada para melhorar.
Meu desequilibro vem da desigualdade que sinto. Quero ver tua insensatez fugindo por tuas lágrimas. Sentir em ti a dor que me faz crescer. Cadê tua arrogância, o teu luxo. Veja o que gera a miséria no teu lixo. Não tive o que você tem por isso a ti sou ninguém. Se nunca alguém me olhou como um futuro promissor. De presente a ti me dou.
Ah, a escola! É! Foi! A maravilha promissora que certo dia imaginei ao estudar, mas nada deu. Acabou quando uma professora, cega seguidora, tentou as regras exatas me ensinar. Mas sobre a sociedade errada nada explicava. Sobre a desigualdade da vida ela nada explicava. A mesma história contava. Eu rodava na sala, no ano, no ar, no círculo da boca do cano. Da quadrada na minha cintura. Acho legal Cabral, mas não é o canal. À minha vida nada importa esta largueza intelectual. A saída pra essa vida miserável é morder meu rabo de cascavel. Amável minha mente mente. Mete-me a mentira numa tentativa de mudar a minha vida. Atira-me sem mira ao crime. Pego o que não é meu. Não há regras aos de cima, só aos de baixo. Nesse regime capitalista, a minha dieta é emagrecedora.
Pensei, concluí que caí. E daí, estou aqui. E não passarei a eternidade nesta passageira miséria. O sol brilha aí, me ofusca aqui dentro desta toca de coelho que entrei. Na entranha dessa tão conhecida sua, mas tão estranha nossa, terra. A vida berra; sou sua, sou seu lar, seu ar, sou sua água a suar em teu corpo a evaporar e a tua sede voltar. A Eva pôs, não por Adão, o pecado por sermos fruto deste. Desço a vontade da árvore. Desço sem saber distinguir do todo suas todas partes. Os segredos da vida parecem escondidos na mãe terra, estão lá guardados em proteção; Protegidos por um coração que pulsa, nos expulsa a esta aventura que é viver. Acaso das minhas reflexões, descobria o que poderia compreender e o que não. Lembro-me da confusão do meu primeiro momento de reflexão. Fiquei tonto, prensei o puro ar, pensei. Demorei um pouco para sentir o sentimento entrando e saindo para meu entendimento. O dia nascendo lá dentro do meu eu que sei nosso. Agora ao sol alto e sem salto, ando nu pelo paraíso para isso existo. Disto não desisto.
Aos esbarrões me apoio em obstáculos, desço como macaco de árvores. A barata banana me dá energia para olhar o que ilumina essa luz desse dia. A vida é essa floresta. Estou esgotado, vou me deitar e deixar o sono me levar ao sonho. A fome, a sede, o frio, a dor, a depressão, o medo, as regras e a violência tentam me anestesiar nesse beco escuro. Mas um pedaço do meu despedaçado corpo adormece e descansa. O ar entra com arte nesta parte. Nenhuma idéia que tivesse acordado teria me acordado. De acordo com minha imaginação alcancei o multilado do universo. Dias e noites se passaram até que vi o que tinha que sentir para achar o caminho, onde preciso ir para descobrir o véu, grosso véu de minha ignorância. O calor, em luz energética, subiu e me clarearam as idéias. A dor me ensinou que as pessoas odeiam a miséria, logo odeiam os miseráveis. Eu, criatura desse sistema, preciso fazer um futuro para mim. Eu quero fazer o que precisamos. Estou entrando eternamente no meu coração. Estou vendo no outro coração, o irmão. Quando me afasto dessa busca, choro. O que essas lágrimas querem dizer é que preciso continuar a sorrir. A alegria me invade, retorno. Parece loucura, mas se largo esta procura de nós em mim, é um sem fim completo. Sinto que este mundo representa um meio para atingirmos a nós mesmos.
Perambulo na melancolia, que cria uma densa névoa de incompreensão nos meus irmãos. Creio no dia que me aquece, mesmo nas madrugadas frias. Daqui a pouco o sol vai aparecer. Lá vem o sol, em seu curso, interrompo meu discurso e olho amplo para o que a luz clareia. A fúria fria vai embora como veio, a liberdade adentra meu pensamento. Uma onda vindo, a vida essa prancha, viver esse dropar. Os pássaros cantam nos galhos das árvores encantadas. Essas folhas parecem cabeleiras verdes. Folhas que não precisam ser fumadas para fazer-nos viajar a nossa própria imensidão interna, onde se encontram emoção e razão. Traço um paralelo com o universo. Faço de minha vida uma missão em verso. Da cabeça aos pés tremo, o chão some, o céu some. Posso imaginar numa visão sem mistérios o que espero dessa missão. Multiplico o universo para entender o resto.
O sol raia todas manhas, nos mostrando o caminho a seguir. Disposto àquele tímido primeiro raio de sol, me espreguiço, arranco forçosa e calmamente à vontade de buscar minha verdade. Administro o tempo agora como meu invento conforme meu intento. É divertido ser poeta logo descubro que aos trancos nesses barrancos a vida é mais bem colorida na poesia. Sou-lhe-a.
O tempo de chuva cai, o vento aqui dentro leva a enxurrada face a cima. Trás de volta a religação. Sinto a esperança de novo ser criança. Estou fugindo do que me alcança desde a infância. -Só de criado-mudo sirvo a este mundo imundo. Eu, uma má criação do estado, nesse estado deplorável de angústia, dor e medo sigo me buscando.
Uma vez uma senhora da sociedade, insaciável, quis mais do que me desprezar. Somente sua providencial cegueira a minha condição miserável não adianta, a distância aumenta a repugnância. Indescritível foi à surpresa que senti, quando essa senhora se aproximou perto de mim. Pensei em receber carinho e compreensão, não esmola de sua mão. Aquela cotinha de avareza, que ainda esperava de mim uma reação de gratidão. Deu-me alguns centavos que não davam um pão. Joguei as moedas no chão. Ela num português que de tão correto, me pareceu distante. Disse-me; - Como ousas negar minha caridade, criatura. Nem que nasças mil vezes, merecerás um cêntimo do que tenho. - Senti-me muito menor, o nada estava me obrigando a brigar pela parte que me cabe viver. Aquela sucessão de fracassos estava me levando à beira da calçada. Num gole seco de medo e desprezo escapuliu-me algumas palavras. Disse - Estou a me atirar neste asfalto por sua incompreensão. Ao dizer isso à senhora se apavorou. Ela nada entendeu, como sempre interpretou da sua pequenez. -O que vais atirar, é um assalto? Correu gritando apavorada sumindo pela calçada. Meus olhos transbordavam, meu semblante incompreensivelmente acalmou-se. Vá, desviei meu pensamento sem lamento ao lá, muito, muito longe momento de criança. De repente um cheiro forte se desprendeu de meu ânus, atravessou minha cueca uma água quente, uma mágoa molhava minha intimidade. Demorei um pouco para compreender que borrara-me. Senti muita vergonha, mas despi-me e comecei a andar nu apesar do frio. A minha testa estava ensopada, o suor frio da minha ativada mente me deixava brilhante. Observei meu templo, meu corpo, percebi o cascão de meus pés brancos e a auréola de porra velha na minha glande. O sarro percorria todos meus pêlos genitais. Corri para o bosque de um parque lá me abriguei por algum tempo. Havia muito lixo e incompreensão na cidade e estava me contaminando. Fui morar no lixão que se tornará um parque abandonado. Nas primeiras noites adormecia ao relento, mas lentamente me adaptei ao local.
Em pouco tempo achei entre sacos e latas algumas roupas. As vesti. Esgotado, senti fome. O parque fora construído em cima dum lixão, em baixo surgiu um bolsão de gás. Era só enfiar um cano e acender com isqueiro, pronto um fogão de uma boca para uma boca faminta. A comida comecei a catar no lixo. O calor e a luz que desprendia aquele fogo era para mim um jogo. Outras pessoas circulavam a área. Drogas ainda usei por um tempo. Mas o loló produzia efeitos tão diferentes em mim que ninguém gostava de minha companhia. Descobri a forma do universo numa dessas viagens. Nesse espiral pirei. Em pouco tempo voltei para o crack. Mas examinei meus sentimentos e meu corpo, vi o erro que estava comigo cometendo. Refleti. Na íris inverti a luz do sol. Não, não iria me tornar estatística, recolhi-me a minha vidinha naquele lixo daquele parque. Fiz uma caverna entre as árvores, quando a noite chegava eu nada cheirava, nem fumava. Água tomava e colhia algumas frutas maduras do lixo. O medo foi extinguindo-se. Algumas pessoas me visitavam, me davam livros que não liam. Porem bastava eu falar o que pensava, que lia nos olhos deles que de mim não gostavam. Mas pelo menos a caridade agora era intelectual, ganhava livros. Havia uma garota que passeava todas as tardes pelo parque onde me escondia da exclusão. Amava a observar, a inclui na minha grande viagem ao íntimo humano.
Aquela moça era uma visão maravilhosa para mim. Acho que ela sabia que a cuidava e nem se importava. Uma vez dei um berro de desejo, como um animal no cio. Ela não parecia capaz de entender que eu a amava. Ardia em meu coração uma vontade de tê-la. Estava seco por dentro, mas por ela me umedecia o íntimo. Enfiei meu coração numa masmorra, cadiei e enguli a chave. Recolhi-me a minha caverna, a temperatura baixava. O frio entrava pelo único orifício de passagem do ar. Pela abertura via nas madrugadas pessoas más e drogadas, fazendo escondido tudo o que não deviam. Durante o dia reconhecia alguns, que eram moradores da redondeza. Os mesmos que me condenavam e chamavam meu lar de chiqueiro, tornavam aquele local, na noite, um local sem pudor ou regras. Onde eles soltavam suas fantasias mais íntimas. Até podia ser que o parque nas altas horas da noite proporcionasse uma liberdade sonhada. Ali eu vivia longe da hipocrisia reinante, da fuga dos nossos sonhos. Só que eu buscava no íntimo à vontade. E a maioria deixava sair os desejos. Percebi a grande diferença entre desejo e vontade - Desejo é vício, vontade é virtude.
Quis desesperadamente ser normal, me droguei para suportar tamanha desigualdade. A felicidade que almejo, não vejo em nenhum lugar. Nos carros passam pessoas preocupadas com contas. Pessoas adoráveis, sei e daí. Resolvi que se não consigo ser feliz, não preciso ser infeliz em minha tristeza. Triste, solitário e incompreendido tornei-me recluso, no entanto fazia bela minha vida pequenina. Dispunha de liberdade de ego. Retribuía com sorrisos os desprezos. Ironia? Não. Razão? Sei lá. A coisa que mais interessa não é a explicação. Isso torna a vida uma competição. O caminho do equilíbrio é a solução.
A leitura me distraía, descobri que as palavras lavram um caminho para um destino melhor. Decidi começar a escrever. E como falar de amor e compreensão? Se era o que eu queria, mas não conhecia. Decidi que não deveria mostrar o que escrevia a ninguém. Sim, porque tinha a consciência de minhas deficiências. A princípio pensei ser incapaz de preencher uma página. Quando percebi estava na última folha de um caderno. Mal sabia eu, que as minhas desafortunadas experiências ainda serviriam para outras belas experiências. O futuro me reservava algo útil para todos, isso me preservava.
Minhas perambulações, em silêncio, pela cidade permitiram uma profunda e leviana constatação do que não se via normalmente.
Numa manhã de peculiar luz, a prima verdade chegou a mim, que parecia buscar a verdade última das coisas. A constatação que cheguei é que se aqui viemos, é para ser útil aqui. Somos parte da natureza. Nada é inútil na natureza. Mas que utilidade teria eu? Essa pergunta me empolgava, me dediquei integralmente a solucionar-me. Em minha imaginação visualizava-me proclamando um texto em público, e este me ouvia atentamente. Só então me ocorreu treinar, exaustivamente treinar. O foco se perdia eu o achava enquanto pensava. Sobretudo minha miserável condição insistia em me aprisionar. Eu, um marginal, querendo ser ouvido sem ter que empunhar um revólver em um ouvido. Impossível.
Os sinais que deveria seguir estavam escritos nos meus sonhos indagatórios. Sim, toda noite dormia e questionava quem ‘eu sou’ e sobre meus caminhos. Tenho a certeza que para se encontrar é preciso se procurar em si. Um eco íntimo perambulava com minha alma inquieta e questionadora no éter, na sublime e sutil reflexão humana. Nos momentos de delírio criativo, eu dançava e cantava como me pediam os pensamentos. As madrugadas se desaceleravam até chegar ao eterno momento sem segundo nem espaço. Por muito tempo segui o relógio e não conseguia entender o tempo esse invento nosso.
Ainda não aprendi a amar, pois para se amar tudo e todos é preciso amar também uma única pessoa e ser amado por essa.
Até que num cansaço sem igual, percebi na beleza humana de uma mulher a entrada para achar tudo o que procurava. Era ela o elo que faltava para eu conhecer o amor. A custa de tamanho sofrimento criei coragem, do meio da borragem sai. Do exílio, da masmorra que sobrevivi. Ileso não digo que saí, mas estava menos confuso. Consegui evitar ser uma estatística, uma nota na página policial de um jornal, saí das drogas e não roubava. Empenhara-me em sobreviver na solidão, assim havia me tornado o monstro do parque. Arrastei correntes, sabia que havia algum motivo maior. A barbaridade, cuja minha vida passara, resultaria naquele instante em força bastante para encarar aquela moça, que tanto sonhava em noites masturbantes. Pela última vez a acompanharia em olhares. Preciso a tocar, sentir o calor de seu corpo. O sonho chegou, a ponte se formou. Atravessarei este mar salgado. A lua iluminada pelo sol brilha na rua. Sua face clara e cheia me enchia de vontade. Refleti pouco, agi.
-Todo homem tem que ter uma companheira.
Desancorei minha nau, em busca desta louca aventura que é amar a mulher que se quer. Corri a ela, que correu também, só que de mim. Odiei a idéia de vê-la fugir de mim. Construí-me até ali para aquilo concretizar e continuar minha caminhada em busca do sonho realizável. Alcancei a linda moça, sua boca vermelha, estava contrastando ao pálido rosto. Branca como cera. Ouvi uma voz distante. -Larga ela bagaceira, vou chamar a polícia. No mesmo instante uma sirene gritante interrompe minha tentativa gritante de achar que esta linda moça poderia ser minha amante. -Mão na cabeça vagabundo, ladrão e estuprador. Sinta-se preso monstro. Sob um atônito olhar da moça a polícia me levou para cadeia.
Já na cela, minha sina queria como uma promessa se realizar. Escravo do desentendimento, me deitei na pedra fria. Esperei amanhecer, nada mudou. Tomei café com o pão que achara no chão, um preso o havia pisado. Comi o pão que o preso amassou. Senti crocante o concreto do cão, das paredes que me prendiam, na minha boca. Mastiguei aquela fatia de pão. Fustigado, cabra marcado. Rangi meus dentes. Como uma fera, acuando, urrei. E disse para mim mesmo, hei de vencer nos caminhos que o destino me colocar. Não importa a porta, vou educadamente bater e pacientemente esperar abrirem.
O sol nasce quadrado e listrado por alguns dias. A moça não prossegue com o processo, que é retirado. E eu sou da prisão tirado. E atirado de novo na sarjeta. Retornei para o bosque. Outras pessoas estavam morando no meu buraco. Cheguei e reinvidiquei meu espaço. Engalfinhei-me numa luta corporal como um animal defendendo sua toca. Eram muitos, me tocaram fora. Agora tudo estava contra. O vento assobiava enquanto a tarde caia e eu desmoronava. Isso me fez pensar na vez que havia me borrado e fugido para o lixão. Não! Reprisar sofrimento não. Castigado pela adversidade. Moído pela polícia. Excluído pela sociedade. Estava me sentindo um monstro mesmo. Comecei a dançar e a cantar. As pessoas nem desconfiavam da minha situação. Pensavam que eu estava cheio de alegria. Em menos de vinte minutos cantando e dançando. Juntei do chão uns vinte pila. Isto deu para uma bela refeição e uma noite num hotel legal.
Senti mudar minha vida,
Voltei a escrever poesia,
Enquanto dançava e cantarolava meus versos,
Vendia minhas descrituras. Me sustentava dignamente. Instalei-me num bom lugar.
Comecei a crescer financeiramente,
As pessoas me olham agora com uma sadia curiosidade.
Antes ninguém em mim acreditava, era um duro
As pessoas da sociedade são assim.
Só querem saber quanto ganho,
Que profissão tenho.
Eu não ligava para isso,
Porquê eu queria mais, o melhor de mim.
Acho que estou me achando.
Domando o monstro de mim mesmo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário