Lá venho eu de novo, achando que sou só eu
aqui. Estou rodeado de gotas de chuva, de orvalho, de lágrimas. Puá. A triste
certeza de um dedo em riste apontado para o espelho no qual reflito.
Abro a porta, corro. Minha mente torta
faz-me voltar. E do ponto de partida de minha vida dou um oi. Foi a partir
desse momento que decidi ir ao fundo do meu eu. A porta. A porta de novo. Toca a
campainha. Mas ninguém em mim atende. Entende. Estou sem sim nem não. O passado
pressente uma volta em revolta no presente que é agora. Mas arrisco com meu
braço arisco comandar minha mão, que na contramão de meu destino discute
consigo mesmo. Nenhum de nós está certo. O destino, este sim, é sempre certo.
Lá vou de novo achar que sou um ovo. Chocado! Chorando. Dói sair da casca de
mim. Minha casca, minha casa, minha casaca. Que coisa eu ser esse ser que não
suporta o peso dos próprios sonhos.É!... Ninguém me tem. Um vintém que na real
é somente uma moeda de centavos. Mas sentai-vos e escutais-me. Meus ais tocam
notas musicais. Libertam-se da dor minha. Minha vida ali na esquina ainda.
Gente jovem reunida. Almas. Há umas vezes que sinto meu corpo dizendo algo que
se eu escutasse não suportaria. Por isso anoto tudo o que noto. Aqui estou eu.
No terror de estar só. Representando no teatro da vida uma peça do destino
pregado. A amizade flui feito água adentra, penetra por onde escorre melhor. O
tempo todo se esvai, escava, e mesmo assim sublime eu gotejo do teto do mundo.
Eu não estou tão só. Mas do que adianta jantar. Ao moço negar a juventude de se
devorar. A dança da chuva cai feito uma luva nesse momento. E danço. Não ranço,
nem canso. Mas do que me adianta essa tecnologia toda, se ela não volta. Ela
quem retunde. Uma tunda. Uma duna. Minha dona sempre foi a poesia. Minha casa,
minha asa. Minha caneta, minha pena, esse dedo que voa em pensamento e
sentimento por toda a parte onde haja um viajante que logo ali adiante vai se
acalmar. Onde a dor vá se aplacar. Apalpar vem o sal meu paladar. Rios em rugas
recém formando. Minha face fácil, doce, reflete corajosamente na poça de minha
fossa. A maior dor que sinto é minha amiga, minha musa. Está tão cansada quanto
eu. E viaja, enquanto viajo. Quem poderá me defender se se não eu mesmo. Minha
capa me capa. Não se reproduz a mesma velocidade que minha idade. É...chega uma
hora que o resto é agora. Mas faz sol la fora. É...outra história vem se
escrever, se apresentar para eu descrever. Um menino brinca na calçada. Grito. O
chamo de bonito. Olho. De longe parece
eu mesmo. Não há ninguém lá, só aqui nessa casca que me descasca. Sinto um
perfume que me fantasia. Aspiro ainda ser aquele menino. Em dúvida volto a
janela, o menino não está mais lá. Passou. Tudo passa, como esse exato momento
passará. Fecho a janela. Acendo a vela e saio caminhando pela escuridão. A
verdade de que tudo passa me assusta. A vida em se debruça. Agora é a vida que
me cuida. Paro. Penso estar ficando louco, mas não. Só mais um pouco deixo
fluir. Dores. Cores. Flores. Amores. Fosse eu um espaço seria o sideral. Fosse
eu uma música seria uma sinfonia de Bethoven. Vem som dizer que sou um com. Paro
de escrever tudo numa tacada. Numa estocada. Sinto minha vontade de escrever esvaziada;
Por enquanto como que por encanto fico de canto. Agora que vou ler tudo o que
descrevi. E nada vou apagar. Tenho minhas contas a pagar. Se é que isso
importa.